Tenho pensado muito no relato bíblico de como o rei Salomão decidiu a causa da criança com a mãe verdadeira. É narrado que duas mulheres foram levadas até o rei para que decidisse qual delas era a mãe verdadeira da criança viva. Ambos tinham filhos, mas uma delas dormindo, virou-se sobre uma das crianças e a matou sufocada, vindo a questionar a criança viva da outra. É nó mínimo inusitado o caso, mas vamos lá: Prossegue o texto dizendo que Salomão – em toda sua sabedoria – pegou uma espada e encenou dividir a criança ao meio, ao que uma delas gritou para que parasse e interrogou o motivo de fazer aquilo, ao que o rei respondeu que desta forma, cada uma das mulheres teria metade da criança e ambas poderiam ir sem reclamar. A outra mulher, inflamava, gritando para que sim! Que o dividisse, assim “nem eu, nem ela o teremos!”.
A primeira, que pediu para que o rei parasse, prosseguiu dizendo que se era desta forma, que o rei entregasse a criança à outra (a que pedia que partisse o menino ao meio), porque ela suportaria isto, mas não que matasse-lhe o filho, então o rei pegou o menino e o entregou a esta, que chorosa, olhou para o rei sem entender, se acabara de dizer que podia dá-lo à outra mulher, ao que o rei concluiu que a mãe verdadeira era a capaz de amar e esse amor havia sido demonstrado quando preferiu perder o filho à outra mulher do que vê-lo ser partido ao meio. A mulher tomou seu filho nos braços e saiu feliz.
O sentido arquetípico da passagem é simples e interessante: Quem ama, é capaz de abrir mão, prefere sentir a dor, ao ver o ente amado sofrer. Quem instiga a pena, o sofrimento, a tortura, não ama. Dessa forma, na sabedoria salomoniana, o ser amado deve ser entregue a quem demonstrou amor, que dispensa dizer “amor verdadeiro” porque seria redundância.
Carmen Gonçalves 