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TEA em mim


O TEAr em mim

Gira, cruza,

Liga, desliga,

DesaboTEA-me.

Atiça, apaga,

Dói, some,

Apaga, Brilha,

EstonTEA-me.

Vibra, estanca,

Transborda, seca,

Salta, mexe,

AconTEAce-me.

Observa, anota,

Arruma, gargalha,

Todos olham

DesenTEAndem

Perde, fixa

Confere, cuida,

Acerta, enxerga,

AcrediTEA-me.

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Meu pai rezava


Lembro do meu pai rezando quando ia dormir: sentava à beira da rede, pés cruzados, fechava a camisa até o penúltimo botão (só não o da gola, porque não se podia entregar ao sono sem se proteger; tampouco podia rezar desrespeitosamente), fazia o sinal da cruz, e ficava recitando baixinho, suas rezas, com cabeça meio baixa, concentrado.

Meu pai rezava de uma forma sacra e respeitosa, era dos poucos momentos em que ele se isolava das coisas externas e solenemente, rezava. (Seria Ave-Maria? Pai-Nosso? Creio-em-Deus-Pai? acho que essas).

Ele rezava e eu observava, como tudo na vida, eu muito observava. Vivazmente eu absorvia todos os detalhes, captava todas as diferenças, comparava com tudo que já conhecia – mentalmente.

Ao fim, fazia o sinal da cruz e deitava na rede levantando os olhos ao céu, parecia entregar-se para o anjo da guarda cuidar de sua alma durante o sono.

Meu pai rezava quando acordava. Sentava novamente à beira da rede, fazia o sinal da cruz, fazia suas preces mexendo os lábios sem que dali saísse som audível, repetia o sinal da cruz ao fim, e levantava animado.

Eu não entendia porque ele acordava animado. (Eu não acordo animada. Aliás, nos dias de hoje, quem?)

Meu pai estava sempre sorridente, do tipo de cara que se dava bem com todo mundo, que tinha jeito com as mulheres e que não se abalava fácil. O que tornava fácil saber que algo não ia bem quando ele estava sério. O vi carrancudo? Raríssimas vezes. Nunca o vi perdendo o controle, tendo um acesso de raiva, nada do tipo. (Terei sublimado ou realmente nunca aconteceu? Não sei)

Também foi raro ver meu pai triste. Quando ele lembrava dos meus avós mortos, uma sombra lhe passava às pálpebras. Mas dali a pouco, ele já levantava, pondo de novo aquele sorriso.

(Meu pai não sorria então porque estava sempre feliz, mas talvez, para manter-se feliz. Meu avô não sorria assim. Ao contrário, era sério e não titubeava se tivesse que corrigir um dos filhos homens.

Meu avô era diferente com as filhas mulheres. Outro dia, visitei sua filha mais velha e ela – com seu Alzheimer – lembrando claramente do seu tempo juvenil e como seu pai a tratava, a mimava, a enchia de coisas… os sinais evidentes de poder material era algo que a minha família paterna gostava de deixar claro.

Semana passada eu me despedi do meu Snoopy guarda-florestal. Em um material tipo vinílico, encaixavam em um suporte central seus pés, barriga, gravata vermelha, cabeça, chapéu verde. Minha avó tinha me dado. Lembro de minha mãe falando em como era algo de status ter uma boneca “Meu bebê”, que à época, era praticamente o meu tamanho. Eu não via graça naquela boneca. Mas eu me encantei totalmente quando ganhei meu Snoopy.

Acordei hoje assim, nostálgica. Já tive outros momentos assim mas hoje, hoje o desejo de registrar essas lembranças ficou imponente.

Meu pai era econômico com as palavras. Ouvia uma história inteira cheia de reclamações e gritos da minha mãe, enquanto eu ouvia calada, joelhos juntos, esfregando as mãos junto aos joelhos, cabisbaixa aguardando a pena para qualquer dos meus atos.

Minha mãe me lembrava de como meu pai torcia a cabeça de um boi somente com os braços e o animal caía. Do que essa força seria capaz de fazer comigo. De fato, eu olhava estatelada seu trabalho braçal. Mas ele encerrava o assunto com algum ditado e uma curta orientação.)

Meu pai rezava e me abençoava dizendo “Deus te faça feliz”. Sempre era essa sua fala. Minha mãe tinha um repertório do que responder quando eu pedia a benção. Mas ele só me dizia “Deus te faça feliz” e parecia a maior benção que eu podia receber, porque afinal, eu sempre me sentia triste, vazia e infeliz.

Hoje acordei, sentei-me à beira da cama e rezei, da mesma forma. Percebi que o faço sempre, em similitude. Para levantar e para deitar. Percebi que esse talvez tenha sido o maior exemplo dado pelo meu pai. Começar e encerrar o dia, com Deus.

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Soneto XVII de Pablo Neruda


Soneto XVII

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio

ou flecha de cravos que propagam o fogo:

te amo como se amam certas coisas obscuras,

secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva

dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,

e graças a teu amor vive escuro em meu corpo

o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,

te amo diretamente sem problemas nem orgulho:

assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

senão assim deste modo em que não sou nem és

tão perto que tua mão sobre meu peito e minha

tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.


Pablo Neruda

(1904-1973)

Soneto XVII

No te amo como si fueras rosa de sal, topacio

o flecha de claveles que propagan el fuego:

te amo como se aman ciertas cosas oscuras,

secretamente, entre la sombra y el alma.

Te amo como la planta que no florece y lleva

dentro de sí, escondida, la luz de aquellas flores,

y gracias a tu amor vive oscuro en mi cuerpo

el apretado aroma que ascendió de la tierra.

Te amo sin saber cómo, ni cuándo, ni de dónde,

te amo directamente sin problemas ni orgullo:

así te amo porque no sé amar de otra manera,

sino así de este modo en que no soy ni eres,

tan cerca que tu mano sobre mi pecho es mía,

tan cerca que se cierran tus ojos con mi sueño.

Referências:

Em Espanhol

NERUDA, Pablo. Soneto XVII. In: __________. Antología poética. Córdoba, AR: Ediciones del Sur, nov.2003. p. 64. Disponível neste endereço. Acesso em: 12 ago. 2019.

Em Português

NERUDA, Pablo. Soneto XVII. Tradução de Carlos Nejar. In: __________. Cem sonetos de amor. Tradução de Carlos Nejar. Porto Alegre, RS: L&PM, 1997. p. 23. (Coleção “L&PM Pocket”; v. 19).

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Percepção Lupina


Envelhecer é “ladeira abaixo”

Ela se repete “Respira, devagar…

Esvazie-se, emoções e razão…

O que te puja para baixo, ignora.

Tudo é instrumento para ser,

Estar, fazer, aprender, compreender.

Tudo faz teus sonhos-metas, reais.”

Por muito tempo pensou que só

bastava sobreviver, mas…

através da idade forjada no tempo,

entendeu que era sobre mais:

Vencer uma a uma todas as coisas,

Agradecer e comemorar as vitórias,

Presentear-se com o reconhecimento

A cada etapa conquistada sob sangue,

suor, lágrimas, dor, dúvidas, busca.

Calçadas e degraus de avanço

na construção e alcance de sentido.

Respira, retoma o fôlego, a energia,

o gás, o sopro de vida existente e…

Segue. Avança e vence!

A essa altura da vida, Sê.

O sentido é sobre a vida,

E não sobre a sobrevida.

Agora enxerga que não é

sobre amor e expectativas,

engolidas a soluços e lágrimas,

Não é sobre os filhos, porque

estes são para a existência e o mundo,

Viverão além de seu ponto final.

Construirão sobre si mesmos e irão.

É sobre si mesma: se ver, se observar,

se sentir, se valorizar, se ouvir, agir.

Fazer por si o que somente ela pode.

(E ela deve isso para existir em si)

Só aí, quando se enxergar de fato,

se amar, se nutrir, se cuidar, se permitir,

É somente nesse momento que ela cresce.

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Idade da Loba (Crônica dos 40 anos)


Há 12 anos eu conhecia esse termo, através de uma amiga que foi fundamental no apoio que me deu após o divórcio. Eu, me tornava uma balzaquiana, e ela, uma Loba que me ensinou que às vezes a gente só tem que entrar na concha e ficar submersa no mar de nós mesmas até as coisas pararem de doer.

Amanhã, sou eu a entrar na Idade da Loba, os primeiros “-enta” e há pouco percebi um aprendizado que eu só tenho agora (e que ainda estou lutando muito para não errar):

Às vezes, a única coisa que você deve fazer é, percebendo o que você tende a fazer, só… não fazer.

Se antes você costumava ligar para a pessoa, até que ela falasse… não ligue.

Se você costumava mandar textões tentando conscientizar alguém da ausência de responsabilidade afetiva… apague tudo, bloqueie e se ocupe com algo que te faça bem.

Se você costumava ficar olhando fotos da criatura… apague, queime, se livre das fotos. Não fique olhando e babando alguém que escolheu não te ter na vida.

Se você costumava discutir para provar que o outro estava errado… só diga “tá bom” e vá embora, não gaste sua energia com alguém que não quer mudar de opinião. (Isso vale para vacinas, para política, para religião, para DR, futebol, boi bumbá… tudo!).

Se você costumava gastar os dedos na internet… se poupe das artrites e artroses.

Preserve os hábitos que te alegram, que te fazem sorrir pra si mesma, converse com quem te responde, agradeça tudo que está bem para você (nem precisa estar esplendoroso!), entregue a Deus, ao Universo, à Lei do Carma etc., tudo que você não tem controle (e se parar para pensar… você não controla nada, mal aos seus esfíncteres, que às vezes não obedecem…)

Tome água, coma saudável, prime pelos afetos verdadeiros, mas não abomine o que for diferente: cada um tem seu tempo e você só é responsável por você mesma em termos de amadurecimento (até aos filhos, nós ensinamos, mas não determinamos quando eles assimilarão o aprendizado, deixa que a vida cuida disso: o que não é aprendido pelo amor… a dor ensina!).

Não terceirize a responsabilidade daquilo que te cabe. Igualmente, não acate responsabilidades que são dos outros.

Dai a César, o que é de César: enxergue direitinho o que é defeito e o que é qualidade e qual punhado vale mais ter na sua vida e qual precisa ir embora, em prol da sua saúde emocional.

Outro dia, uma mãe na internet disse que é preciso abrir mão, inclusive dos filhos! Eu fiquei incomodada e perguntei: “até dos filhos?” e ela “principalmente dos filhos, se te fazem mal.” Eu não fiquei pra perguntar a origem daquilo, pensei na minha filha… mas lembrei de tantos outros filhos que maltratam os pais de diversas formas, desonrando seu legado de forma i/amoral, civil, criminosa e claro, emotiva e psicologicamente, quando também fisicamente (lembrem da Richtofen!).

40 anos… eu estava querendo escrever sobre eles há alguns meses… mas hoje, véspera do meu aniversário de 40 anos… eu só consigo pensar “puxa! 40 anos! que alegria! que satisfação!”

No mais, estou aceitando meus cabelos brancos, optando por admiti-los publicamente, mesmo amando a cor que escolhi para eles, a tonalidade 666. Também que envelhecer não precisa ser encurtá-los, e graças a Sarah Jessica Parker, podemos ter alguém para dizer do topo do mundo: posso sim ter cabelos longos e brancos e não teria ninguém falando mal, se fossem escolhas masculinas sobre seus grisalhos!

Hoje eu estava conversando com alguém e comentei que a melhor parte dos meus 40, é que eles têm o que meus 20 e meus 30 não tinham na mesma quantidade: aprendizado! Saber dizer o que machuca, o que não serve, o que não deve ser naturalizado, o que não deve ser aceito, o que não deve ser tolerado… beeeeeeemmmmm Maria da Penha! (a propósito, semana passada foi aniversário dela! ainda viva e na casa dos 50! belíssima apesar de tudo!).

A mulher de 40 anos aprendeu a dizer que prefere o prazer a apenas ter um homem. Ela aprendeu a ter coragem de dizer o que sente, o que quer, e a suportar negativas. Aprendeu a deixar ir, deixar partir, se livra do velho para que o novo chegue… e os ciclos novos da vida, chegam sempre! Desde que os aceitemos!

Outro dia, o debate de um post era sobre aceitar a feminilidade… onde o homem devia respeitar a mulher na intimidade. Me perguntaram se era um debate válido, pediram minha opinião… de início, eu não sabia o que dizer. Depois de refletir, eu pensei e escrevi: “A mulher que aprendeu a ter prazer, não precisa aprender isso, porque isso vai ser natural nela. Ela não vai aceitar qualquer um, só pra dizer que tem alguém. Ela não vai tolerar qualquer coisa, por uma aliança, um título, um casamento, o suposto bem-estar dos filhos, das aparências, da cobrança da sociedade. A mulher que aprendeu que não há uma única fonte de prazer na vida, ela sabe que não precisa se sujeitar à satisfação do homem que apenas não a incomode.” E eu fui além: “O homem bonito, apreciado, cobiçado, ele não se esforça nenhum pouco para oferecer prazer para qualquer mulher, porque ele nunca teve que ralar para conseguir atenção. Enquanto que aquele cara nerd que demorou a perder a virgindade, que tremia para beijar uma garota, que sabia que era privilegiado com aquele sim… esse cara vai fazer tudo pra valer a pena, porque ele não teve de mão beijada, pelo contrário: teve que garimpar a jóia!”

A pessoa – e não só a mulher – que aprendeu o prazer da própria companhia, que conhece o próprio corpo, que não se envergonha se quiser ter uns “acessórios” (mas ela também não precisa sair contando pra todo mundo, né? Vamos de Nelson Rodrigues lembrando que “se todo mundo soubesse a vida sexual de todo mundo… ninguém falava com ninguém!”), também sabe que um café, um sorvete, um doce, um filme, um livro, uma conversa e várias outras coisas, como exercício, ioga, viagem, crescimento pessoal, profissional, são fontes possíveis de prazer.

Se ela aprende a se dar prazeres sem culpa… ela não vai aguentar um cidadão que não tem 5min de fôlego, que não sabe uma preliminar, que tá atendendo só à “cabeça de baixo” ficar utilizando seu corpo como um objeto, só para mostrar para um mundo falso e vazio, que ela “não está só”. De novo Nelson Rodrigues: “A pior solidão é a companhia de um paulista.” Parafraseando: a pior solidão é a companhia de alguém que não está inteiramente com você por 11 minutos (olha a referência, Paulo Coelho!).

Alguns diriam que essa mulher é muito exigente. Outros, que ela faz qualquer coisa demais (trabalhar, estudar, crescer, viver…) e “não vive” só porque eles não têm um homem para se dirigirem e pensarem “ela fode tb”. Companhia não deve ser por necessidade de aprovação de ninguém, nem para provar qualquer coisa a quem quer que seja (inclusive, ela mesma!).

Essa mulher aprendeu a dizer não. Aprendeu a não se sujeitar, a dar sua voz, e quando olham para ela, com aqueles cabelos grisalhos e pensam “é só uma velha sem filtro!” ela sorri de soslaio e pensa “mais uma benção de envelhecer: poder dizer o que quer, na conta da idade!” (isso eu aprendi com uma senhorinha de 60 anos! E é magnífico! Todos deviam experimentar ao menos uma vez na vida!).

Ela vive inteira, completa, ela tem todo o passado não-dito para saber que viveu. E é porque viveu, que lhe foi dada a prerrogativa de falar! Só ela trilhou o caminho dela, só ela sabe tudo que atravessou e pelo que foi atravessada… ela sabe o valor de cada gota de sangue, suor e lágrima! Não é que ela não tenha bom-senso, ela sabe sim o que diz, mesmo que ela se desculpe depois se “ofendeu” ao incauto (“É melhor pedir perdão, que permissão!”). Ela deu o recado, entendeu quem foi capaz, e quem não foi… um dia, quem sabe, será. Não importa. Não mendiga aval de quem quer que seja.

A mulher de 40 anos que aprendeu as coisas que passou, aguentou, perdoou, esqueceu, brigou, vibrou etc., ela não tem o menor interesse na vida alheia, no que dá ibope nas redes sociais, nem se ofende se pessoas tacanhas querem rotulá-la a partir da presença ou ausência de um homem. Ela sabe que ela se basta se ela faz o melhor de tudo que tem, que chega, que experiencia… ela não se mede pela mente alheia. O apoio é até bem-vindo, mas não é uma necessidade.

Eu, mulher de 40 anos, aprendi que o melhor da vida, é ser livre pra ser eu mesma! E sou muito feliz e grata, assim!

Namastê! e Felicíssimo Aniversário para mim, amanhã!

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Oração ao Deus desconhecido de F. Nietzsche


Antes de prosseguir no meu caminho
E lançar o meu olhar para frente
Uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti,
Na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas do meu coração,
Tenho dedicado altares festivos,
Para que em cada momento
Tua voz me possa chamar.

Sobre esses altares está gravada em fogo
Esta palavra: “ao Deus desconhecido”
Eu sou teu, embora até o presente
Me tenha associado aos sacrílegos.
Eu sou teu, não obstante os laços
Me puxarem para o abismo.
Mesmo querendo fugir
Sinto-me forçado a servir-Te.

Eu quero Te conhecer, ó Desconhecido!
Tu que que me penetras a alma
E qual turbilhão invades minha vida.
Tu, o Incompreensível, meu Semelhante.
Quero Te conhecer e a Ti servir.

Friedrich Nietzsche (1844-1900) em Lyrisches und Spruchhaftes (1858-1888). O texto em alemão pode ser encontrado em Die schönsten Gedichte von Friederich Nietzsche, Diogenes Taschenbuch, Zürich 2000, 11-12 ou em F. Nietzsche, Gedichte, Diogenes Verlag, Zurich 1994.

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O Primo Rico e a Parábola do Filho Pródigo


Hoje foi o segundo dia do “Desafio Jesus” do Thiago Nigro. Quem já conhece, eventualmente ele lança um desafio, que consiste em um período de aulas para a vida e para finanças (que é o nicho dele), às 5h06 da manhã (horário BSB). Hoje, boa parte do tempo foi dando diversos insights sobre a Parábola do Filho Pródigo.

Quando eu era jovem, eu sempre me identificava com o filho mais velho: aquele que se esforça, que faz tudo direitinho, que dá o sangue… e que não tem o trabalho reconhecido (era como eu via). Enquanto a maioria do mundo, das pessoas, eram esses fanfarrões que fazem e acontecem e “tá tudo bem”, porque “Deus perdoa”..

Da forma que era dito, parecia até que Deus ficava feliz que a pessoa bancasse a cigarra a vida toda e quando chegam as consequências das suas escolhas, se fazem de vítima e são acolhidas (e muita gente faz isso sim, porque tem quem passe pano, isso é outra verdade).

(A propósito, ontem eu li um trecho de um livro da Marie Louise Von-Franz – discípula do Jung – onde ela registrava que a empatia pela pena pelos outros, é uma justificativa nossa, para as nossas fraquezas. O que aliás, faz todo sentido: se você convence a pessoa a não condenar o deslize do outro, quando o seu deslize vir à tona… vai ter prerrogativa pra dizer “mas você perdoou fulano e não vai perdoar a mim?” Mas eu não vou entrar nesse mérito hoje).

Porém hoje quando Thiago começou a narrar a parábola me ocorreu uma visão que eu nunca tinha tido, e que provavelmente me atrapalhou esse tempo todo (as crenças limitantes, como diz o Hélio Couto!).

Pois bem, essa foi a lição para a minha vida, e talvez não se aplique à sua, mas dá pra dar uma pensada legal:

Quando nos esforçamos para fazer tudo certo, quando isso é uma necessidade de reconhecimento (nem vou entrar no mérito de quando na sua vida, essas crenças se formaram…), quando você absorveu que o caminho da vida é o do sofrimento e do trabalho árduo, e zero recompensas aqui na sua vida terrestre… você não enxerga que o bezerro para comer com os seus amigos sempre esteve disponível e você estava tão concentrado em seu paradigma, que não percebeu que não precisava pedir, só viver, a benção estava lá e está lá o tempo todo, desde que você queira viver não só a labuta, mas também usufruir o que já é teu, o que teu mérito de afinco, já te dá.

Então quando vem um doidivanas arrasando tudo e ficando bem, e ainda sendo laureado e premiado na vida, você fica se remoendo: “como assim essa pessoa faz tudo isso… e ainda tem tudo isso?”

É o velho questionamento de “por que coisas boas acontecem com pessoas más?” e “por que coisas ruins acontecem com pessoas boas?”, que são os dois lados de uma mesma moeda.

Está escrito que o sol nasce para todos, bons e ruins. Também está escrito sobre o que foi resumido como a Lei do Retorno: um dia a conta chega e não é você a pessoa investida para cobrar. Tenha certeza disso!

Logo, vivamos a vida com o que ela já nos dispôs, sem deixar que a crença em “aqui só é vale de lágrimas” te acorrente. Porque é fato que coisas boas estão aí, acontecendo todos os dias e que você vai conseguir enxergar se não ficar com o foco só no trabalho como tormenta pelos seus erros. Trabalho é oportunidade de aprender e crescer com o aprendizado! Quando você aprende, passa a evitar os erros que já identifica, logo, as chances de sucesso aumentam! (Mas a gente não está preparada para essa conversa, porque é mais fácil achar que tudo é perseguição: até na perseguição há aprendizado)

Afinal, o salmo 23 diz “AINDA QUE eu ande por um vale de lágrimas” e não “o tempo que dure a minha vida neste vale de lágrimas”.

E os que vivem como querem… também tem sua própria cota de “desejar até a comida dos porcos” (passar pela humilhação), que vai chegar na hora e proporcionalmente. São as consequências do que foi plantado e isso é inevitável, ainda que enquanto estiver no desfrute da “vida loca” ache que o prazer vai durar para sempre e as consequências nunca virão ou “valem a pena”.

Como encerrou o Thiago hoje, “A consequência do pecado é maior que o benefício do pecado.”. Que se soma a outras frases dele, como a clássica (e minha preferida) “Nunca vale a pena sacrificar o que você quer a longo prazo, pelo que você deseja no curto prazo”, no imediato.

Consequências é aquilo que nós nos acostumamos a chamar de “vida”. A conta vai, isso é certo. “Quem planta vento, colhe tempestade”, também está escrito. Você não precisa ser “a vida” de ninguém, a Lei do Retorno já se ocupa disso. O filho pródigo perdeu os “amigos” quando acabou o dinheiro, passou fome, teve que ir fazer o trabalho que lhe era – como judeu – o mais humilhante, para se dar conta que “exigir o que era de direito” e fazer com isso (livre arbítrio) o que desejasse, tinha consequências e elas chegam das maneiras mais variadas.

Mas Deus que é pai, não é genitor (essa eu aprendi ontem!), também dá a uns e a outros, a oportunidade de ver que tudo pode ser diferente e que as consequências de plantar uma fruteira doce, é melhor que plantar um espinheiro.

A nota pra vida de hoje é essa: faça sua parte, mas também se permita viver os frutos do seu esforço, do seu trabalho, do seu afinco. Não puxe para você a odisseia de viver eternamente o vale de lágrimas, e esperar que as coisas boas só aconteçam “no céu”, porque elas estão aqui e agora, acontecendo e dispostas a você! O sol nasce para todos!

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Sobre(a)Vida


Verdades eternas. Verdades inabaláveis.

O que delas eu sei? Sou só uma árvore.

Umas verdades vêm, outras vão,

e eu aqui somente em meu chão.

Estico minhas raízes, a espreguiçar

a vida, minha vida, que alcançar?

Solos encharcados, outros dissecados

Uns empedrados, outros areados.

Sem sustento como ao céu esgueirar?

aspiro, respiro, suspiro e sigo sem ar.

Porque o espaço é maçante,

Sinto tontura escaldante:

a vida gira, gira, gira e fim.

Serpenteia em torno, estopim.

Tentam quedar-me e forçam intensos

Acham meu esforço e tempo lentos,

Lascam e lascam minhas casca grossa,

Tentando que assim eu siga generosa.

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Miúdo da Dúvida


Vivemos a constante insatisfação do não saber e se isso é o suficiente para seguirmos.

A dúvida é rejeitada porque não é pilastra e ninguém consegue surfar constante a maré dos instantes.

Eu sou o vagalhão que dilacera a vida ao agitar… pedindo sinceridade onde possa me abrigar.

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“And Just Like That”


Quem da minha geração não ficou afoit@ pelo revival de “Sex and The City”? Eu fiquei, claro! De alguma forma, saber uma previsão das coisas que não precisamos viver para aprender, sempre foi bem-vindo! (Ao menos, para mim).

No ep3, Carrie reencontra Natasha (entendedores, entenderão! rss). O encontro me fez pensar: Toda pessoa traída, guarda uma mágoa, independente do tempo?

Estou divorciada desde fev2011, separada desde 4jan2010. Essa data eu guardo dia, mês e ano, pela forma como ela ocorreu, pelas humilhações passadas antes. Por muitos anos, eu me senti culpada… o que EU tinha feito para “merecer” aquilo???

A verdade é que EU não fiz. Foram escolhas de outras pessoas atropelar a minha vida planejada, como uma infiltração na parede do prédio, atrás de um móvel perfeitamente planejado e instalado: você não vê a infiltração, só o estrago em tudo, e quando já é tarde, quando já “perdeu”.

Quando a minha vida começou a desabrochar de novo (leia-se: passei a fazer a principal coisa que eu era podada a fazer), tudo foi colorindo em volta, tomando proporções que cada dia mais eu via como aquele não era meu lugar, e como eu era infeliz ali.

Como aquele ambiente e seus valores não era o que eu queria passar pra minha filha. Como eu era abusada, controlada, humilhada, podada, sem voz, sem fala, sem espaço… sempre inadequada, sempre antiquada, sempre defeitos, defeitos, defeitos…

Aqueles “defeitos” era quem eu era: o fato é que eu não era como ela era. Eu não gostava do que ela gostava. Eu não agia como ela agia. E mais: ele gostava era dela. Ela era importante para ele em um nível que eu nunca fora.

Demorei a notar que ELE não gostar de mim, não significava que TODOS OS OUTROS HOMENS DO UNIVERSO concordariam com ele. De fato, só a experiência desconstrói crenças irreais.

Esse é um ponto. Uma parte da reflexão. Mas a pergunta inicial fala sobre RESPONSABILIDADE AFETIVA, um tema que à época, era desconhecido para mim. Aliás, algo que neguei por muito tempo. Eu sabia o que esperava mas não sabia o nome e negava isso porque, naquela compreensão que eu tinha, se eu admitisse isso, estaria retornando à dor da TRAIÇÃO.

Então vamos falar a palavra certa: o que dói é a quebra desse contrato social de confiança, a lealdade firmada e assumida. E dói não ter notado a tempo do estrago ser menor, a tempo de sanar a dor em prazo mais curto. Dói a estupidez da autopunição por algo que não era meu.

É duro porque é assumir a minha falha comigo.

Como alguém que ergue muralhas fortes, altas, inatacáveis, precavidas, monta toda sua estrutura de manutenção internamente ali (planta, colhe, gera energia… autosustentável) mas não notou que construiu tudo aquilo sobre a areia “e vieram os ventos, a chuva, as águas e a casa desabou”.

Ainda me magoa ele ter me traído? Não. Ainda dói o casamento ter acabado? Não. Ainda dói saber que tem uma construção com ELA (a mesma “ela”) esse tempo todo? Não.

Por uma razão muito simples: aqui, do lado de fora, eu sou LIVRE! Posso pensar, falar, sentir, agir, reagir, estudar, construir, desconstruir, ideias, conceitos, planos, projetos… Aqui fora eu TENHO O DIREITO de SER. Simplesmente ser, enxergar minha essência, dar sentido à minha existência, sem que ela precise agradar a quem quer que seja.

Sou “Caxias”? Sou. Sou meio franciscana? Sou. Sou estoica? Sou. Sou oposta a tudo que eles prezam (e portanto aquilo que des-prezam)? Sou. Sou feliz assim? SOU! Interessa a eles que eu não ligue? NÃO!

Talvez eu seja meio Diógenes, o filósofo… rsss

Responsabilidade Afetiva não é só sobre o que o outro deve considerar antes de assumir papéis comigo. Também é sobre eu RESPEITAR a mim mesma, à minha essência, ao que eu acredito e prezo e ao direito de – se eu quiser mudar de paradigmas – também o faça sem que isso me machuque, nem deixar que outro me puna por isso.

Então, a meu ver hoje, eu não me identifico com a Carrie de 55 anos que ainda se preocupa com o que a Natasha significava para o Mr. Big, para ter deixado herança para ela (spoiler!!!).

Nunca pensei que diria isso, mas… da atualização dos personagens até agora nesse revival, tenho que aplaudir a Natasha, que seguiu a vida, que casou, teve filhos, empregou-se, SEGUIU! E que deu pedra cinza sim, para os protagonistas. (Pedra cinza = contato zero com os narcisistas).

Não estou dizendo que Carrie e James eram narcisistas, mas que tiveram um comportamento egóico sim e machucaram alguém que não tinha nada a ver com os sentimentos deles e mais: bagunçaram a vida dessa pessoa, seus sonhos, suas perspectivas, sem a honestidade de dizer “-Olha, eu não sinto mais o mesmo que sentia quando assumi compromisso com você. Sempre amei outra pessoa e tentei me enganar que você supriria a minha falta de coragem para assumi-la porque eu podia ser criticado! Mas já deu! Não consegui, não resisto mais! Eu quero ficar com o que sempre quis. ME PERDOE por não ter tido essa coragem antes, por ter metido você na minha confusão! O mínimo que eu devo fazer é ser honesto e sair dessa relação!”

Natasha tocou o barco. Big assumiu uma culpa e, uma desculpa com a herança. Carrie projetou todos os seus medos e receios e culpa sobre Natasha (de novo!).

Eu toquei o barco há pelo menos 10 anos, mesmo que já houvesse desatracado daquele porto de lágrimas, meses antes.

“Doeu, doeu, agora não dói, não dói, não dói! Chorei, chorei, agora não choro mais! Toda mágoa que passei, é motivo pra comemorar, pois se não fosse assim, não tinha razão pra cantar: ha-ha-ha-ha mas eu tô rindo à toa! Não que a vida seja assim tão boa, mas que o sorriso ajuda a melhorar! E cantando assim parece que o tempo voa!…” (Falamansa – Tô rindo à toa)

Natasha tendo que lidar com uma herança e uma perseguição da Carrie… eu, com um processo de suposta alienação parental… Então, QUEM não superou a si mesmo na tríade que eu não pedi pra participar?

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